Ha quanto tempo! Antes de crucificar, tentem entender... Era época de ENEM(to-ai), tive que fazer uma pausa antes para revisar, e uma pausa após para me recuperar porque, se aquilo não é um tipo de atentado, então eu já não sei mais o que é ser levado ao limite com questões cansativas que em parte só querem fazer você se confundir e marcar a letra C (no meu caso, a sorte é a inicial do meu nome) E ser coagido por horários e metas, e o car*lho a quatro.
Enfim! Não, não é um post sobre o ENEM, então vamos ao que interessa.
Vocês viram? O filme vai estrear ano que vem, pelo que vi no trailer não vai ser uma reprodução muito "fiel", mas ainda tenho esperanças. Outras representações já foram feitas no balé, TV, e cinema, exemplo?Minha versão favorita até agora é a em preto e branco em que Vivien Leigh interpreta Ana (apesar de não parecer exatamente como eu imagino a personagem) em 1948 (sim! Vivan Leigh é a Scarlat O'Hara em E o Vento Levou) E eu, muito cheia de "senhor, pois não?" fui correndo ler essa obra, não porque vai sair o filme, não porque eu quase tive orgasmos mentais ao ver no trailer aquele belo cenário musical e algumas boas críticas do diretor, mas na verdade porque meramente o autor da obra é russo.
Eu adoro literatura russa. Sério.
Leon Nikolaievitch Tolstói, ou apenas Tolstói, escreveu muitos livros de diferentes temas, foi um homem eclético, ouso dizer inovador, pois ele não aceitou o ensino da maneira que lhe eram impostas, ele buscou suas pesquisas por si mesmo, criou seu caminho. Não sou uma profunda entendedora de suas obras além da que vos falo, mas tenho alguns nomes importantes em mente que foram seus primeiros trabalhos autobiográficos:
A História da Minha Infância(1852),
Adolescência(1854) e
Mocidade(1857). E entre o segundo e o terceiro intercala-se
A Manhã de um Fidalgo(1856) que foi inspirado em seus ideais e frustrações interiores de seu tempo de juventude. Vocês devem estar pensando agora "mas que porre de livros são esses? O cara passa os livros falado dele mesmo, deve ser um lixo" bom, eu não sei, eu não os li, mas posso afirmar algo, o livro Ana Karênina para mim foi genial, e daqui a pouco (se continuar lendo) explico o porque, então por que não dar uma chance ao Tolstoi? Pelo menos
Manhã de um Fidalgo parece ser bom, pois, em Ana Karênina existe um personagem chamado Liêvin e ele é o alter ego de Tolstoi, eu adoro ele, seus ideias, suas frustrações, suas inseguranças, então logo, posso esperar algo interessante. E para completar, seguindo o fluxo de lançamentos, no "final" de sua carreira publicou até alguns que até poderiam ser considerados blasfemos por criticarem severamente a Igreja Ortodoxa, nessa época ele já cultivava a incredulidade no divino, algo que se mostra em Liêvin em Ana Karênina. Exemplos rápidos:
Crítica à Teologia Dogmatica(1879) e
Fé(1883).
Voltando ao ponto principal, Ana Karênina foi publicado(se não me falha a memória)entre os anos de 1873/77, de maneira periódica no jornal como uma novela, e não preciso dizer que foi uma história acompanhada ferrenhamente por muitas leitoras. O livro se divide em vários núcleos que ao longo da história se cruzam, cada um com sua própria vida, enfim, é como uma novela romântica, e também centra bastante na relação marido em mulher, os três núcleos principais são casais, cada um infeliz e feliz a sua maneira.Na verdade o livro já começa com uma premissa do que você está para ler:
"Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira"
Já da para imaginar, né? A primeira cena mostrada no livro é um pai de família(nem um pouco inocente) que basicamente está a beira de uma separação. Stiepan Oblonski, um bonachão que só sabe gastar o dinheiro da família com diversões devassas, e mesmo assim tem um nome honrado na praça, sacumé? Quando chegavam as partes dele e da família dele no livro, eu juro, são as mais martirizantes para mim, não sei, simplesmente abomino esse homem, mas tenho uma imensa compaixão pela mulher dele, Dária. O resumo é, ela deu a luz a 7(sete) filhos (após o quinto, acho que o resto saiu andando), não é mais uma mulher bela, e ele, criatura irrelevante, acha que não está morto e que deve buscar essas "diversões" fora de casa. Ela esteve a ponto de se separar desse traste, mas não o fez.Mesmo profundamente magoada (após descobrir a traição dele com a preceptora dos filhos!Pode isso Arnaldo?), não se separou do bacon ambulante. E então você me pergunta "por que?!". Bem, ai que nos é apresentada a "maravilhosa e desequilibrada" Ana Karênina, irmã do traste. Sua chegada já é marcada por uma paixão e uma tragédia, ela na estação do trem encontra Vronski pela primeira vez, rola uma tenção entre os olhares, mas ela se faz de durona, afinal, é mulher casada. E logo após descer do trem e encontrar seu irmão bonachão ocorre um acidente trágico, um homem "atropelado" (HAHAHAHA) pelo trem, só pode ser "mal agouro" não é? Enfim, voltando ao problema anterior, Ana com sua lábia de mulher que é forçada a fazer teatro desde sempre, amansa Daria e passa a conversa de esquina na coitada, assim fazendo com que eles se entendam novamente. Oblonski não vai parar de trair Daria, e Daria, que ainda ama o marido e é mulher de fibra(não desequilibrada), aceita esse tipo de vida.
Agora vamos a mulher que deu nome ao livro, Ana Karênina, linda Karênina, descrita com uma pele muito clara, cabelos muito negros e ondulados, dona de movimentos atraentes e personalidade viva, daquelas que excepcionalmente conquistam sua platéia, (clichê? Sempre precisa ter a bela das belas). No entanto, ela é casada com o cara mais massante do livro (Bah, mas que maçada! -pois é.) Alieksiei Aliesándrovitch Karênin. (queria ver você tentar falar esse nome bem rápido três vezes). Ela basicamente, tem repulsa completa e total por ele, mas são casados e não tem mais nada que se possa fazer além dela aceitar calada
lá muito de vez em quando ele executar seus deveres de marido, e ela presa nessa gaiola social acaba se tornando uma ótima atriz! Conformada com o destino e que cala seus sentimentos em seu âmago, já aviso assim quando ela se liberta, tadã! Ana - desequilibrada - Karênina, aquela que não consegue viver sem platéia para adora-la, não consegue lidar com a paixão, insegura e instável, ama o filho do homem que odeia(chegando a comparar com o sentimento que tem por Vronski), mas se contenta com apenas uma visita, praticamente ignora a filha do homem que ama(ou pensa que ama) a vida é bela.Coitado do marido, ele não tem culpa de ser tão chato, e nem de ser um futuro corno manso, mas fazer o que? Eu até gosto dele sabe, mesmo com suas manias frias e sarcásticas suas orelhas de abano, uma careca escrota e suas mãos ossudas, sabe, ele é bem mais velho que Ana. Ele e Ana são casados ha oito anos e o tão adorado filho (único) é um molequinho que passa de irrelevante a irritante e novamente irrelevante durante a trama, chamado Sierioja.
E badabum! No meio da trama aparece Conde Alieksiei Kirílovitch Vronski, o militar moreno, alto e de bigode estilo Gomez Addams, quase noivo (porque o protocolo social diz que ele deve pedir a mão dela) de Kitty Tchierbátskaia, a princesinha loira, paixão secreta de Constantino Dmitrievitch Liêvin, o latifundiário simples e idealista. Deu pra perceber o enredo novelístico digno da Globo?Pois é...Mas não é tão ruim quanto parece. A história mesmo sendo as vezes um pouco(eufemismo) clichê, ela tem seu diferencial, para alguns ela prende o leitor de uma maneira agradável e para outros desagrada pela complexidade de certas passagens, mas que de maneira nenhuma são desnecessárias, pelo menos eu não acho desnecessário, é conhecimento poxa! Exemplos são: Quando Liêvin explica a economia russa da época, ou personagens variados discutem assuntos sociológicos e políticos, ou ainda quando as referências russas sobre comida, medidas, coisas em geral brotam no texto ou
ainda o pior, as várias e várias falas completamente em francês e você tem que buscar o dicionário para descobrir o significado de tudo isso, sorte que meu livro tem os significados de tudo nele mesmo, senão ia ser complicado, ia passar batido na verdade. Sério, naquela época era moda a nobreza falar francês. Enfim, mas esses encalços não me impediram de seguir em frente, mas é visto que essa obra não é para leitores inexperientes ou com pouca determinação.
Enfim, Vronski, no baile que decidiria o destino de Kitty e dele, se reencontra com Ana(bela Ana), aquela mulher de vestido simples preto mas de uma beleza diferenciada, a tenção estoura, ele dança apenas com ela o baile todo, mesmo tendo prometido dançar com sua (quase) noiva e criando um redevú dos infernos. Kitty rejeita Liêvin, Vronski (não tendo apresentado uma proposta depois dos flertes) rejeita Kitty. E a merda está feita.
Liêvin, um grande latifundiário, volta para sua aldeia de coração partido e se dedica inteiramente ao trabalho. Kitty a beira de um colapso fisiológico graças ao psicológico abalado vai com a família se "curar" de sua "doença sem nome" em umas fontes no estrangeiro junto com a família, se não me engano é na Alemanha. E Vronski, o galã da novela das 9, corre atras de Ana até São Petersburgo e cola nela feito carrapato em lombo de boi.
Ele a persegue para todo o lado, em todas as reuniões sociais, e tem até certo apoio de uma das mulheres do círculo, afinal, "
Uma mulher casada que atraiçoa o marido cometendo o adultério é vulgar, mas um herói romântico enamorado por uma mulher comprometida não é vulgar, é nobre." Enfim, vai entender, deve ser alguma pré-espécie
de alguma fã de algum romance de esquina envolvendo homens cruzados com fadas dependentes e debiloides, cor de mármore que brilham ao sol.
Okay... Faz tempo que essas piadas não tem mais graça. Mas e dai? Me amem, me condenem, mas leiam o post e sigam o blog.
It's just business.
Continuando, água mole pedra dura, tanto bate até que fura. Ana sucumbe ás investidas do homem, como o livro era de uma época diferente de hoje em dia (que
50 tons de cinza é a leitura diária e comum para meninas e senhoras que desejam (sem resultado algum) reacender seus casamentos arruinados) Não tem nenhum tipo de descrição do ato ou coisa do gênero, apenas sabemos que aconteceu pois os dois pombinhos se encontram em um divã, Vronski debruçado para ela tentando a sossegar e Ana profundamente abalada, se sentindo a pior das criminosas, mesmo que ela tivesse tido os melhores momentos da vida dela até aquele momento, o sentimento de culpa é tão grande que consegue sobrepor tudo isso. E então rola uma cena dramática e cheia de desespero misturada com ternura (poderia dizer que foi provinciano, poderia dizer que foi exagerado, mas todos que um dia se apaixonaram completa, perdida e indubitavelmente sabem que é possível). O engraçado é que eu não consigo ter pena desse casal, não consigo ter nenhum tipo de simpatia ou compaixão pelos dois.Ainda não descobri o por que, ainda não entendi perfeitamente qual é o traço da personalidade de ambos que me desagrada tanto, mas é fato que deles eu não gosto.Prefiro mil vezes a história paralela de Liêvin. Enfim voltando ao fio da história, todos sabem que quem nunca peca, só o primeiro pecado é o mais difícil, esse sentimento de culpa parece desaparecer quando ela está ao lado de Vronski, bem, é obvio que Ana continuou seus encontros com Vronski-galã maravilha, ai que ta o pega ratão, afinal, a culpa some mas volta, e quando volta me bem é pra derrubar, por que antes ela estava apenas se acumulando cada vez mais, agora imaginem uma mulher que se sente completamente culpada mas mesmo assim não consegue parar de fazer o errado, se entrega completamente a Vronski, abrindo seu coração e dependendo dele obsessivamente em certos casos, e ainda assim continua casada, o que pode-se fazer? Fugir? Divorciar-se? E Ana fica em cima do muro até que acontece o mais óbvio que poderia acontecer, barriga! Grávida! Prenha! Embarasada! E ainda assim casada com Karênin, ainda assim mortificada pela culpa, ainda assim desolada em um mundo hostil. Sim, algumas pessoas poderiam lidar com isso, mas lembrem-se de quem falamos, Ana - Desequilibrada - Karênina. E a bomba estoura quando Vronski sofre um acidente em uma corrida de cavalos, foi muito para a mulher aguentar.Ela conta tudo para o marido, pobre corno manso Karênin, que apenas secamente diz para ela manter as aparências, e então se enterra em seus trabalhos para esquecer a vida particular, mas é claro, muita, mas muuuita coisa acontece, isso ai foi apenas um breve resumo do casal Ana e Vronki até a metade do primeiro livro, pois a obra de Tolsoi é dividida em dois livros.
Tolstoi, a sua maneira, descreve a sociedade Russa da época, a hipocrisia, a decadência nem sempre escondida sob a cortina, as motivações, as tragédias mas também o lado simples e belo. Esse contraste pode ser visto perfeitamente se compararmos os dois núcleos principais, Ana/Vronski e Liêvin/Kitty.(não, isso não é SPOILER, você sabia desde o início que o amor triunfa no final porque isso é um água com açúcar, capitchê? E vou dizer mais, no casamento deles lágrimas muito sinceras e nada gay quase escorreram por meus olhos, depois de passar um livro todo presenciando ambos os lados, Liêvin e Kitty, apenas a reconciliação valeu o dinheiro gasto no livro). Ele também parece tentar dar uma moral à história, onde só se encontra a felicidade nas pequenas coisas, nas simplicidades e na corretude. Pode se ver muito bem vendo novamente o contraste Ana e Kitty.
Bom, eu sei que muitos vão criticar esse livro, porque talvez eu não o tenha feito parecer bom.Mas leiam, é bom, é um romance mas tem um ar completamente diferente... Tem um ar russo (me gusta). Cada livro tem seu próprio ritmo, talvez seja por isso que quando mais jovem eu não gostasse muito de ler, sempre tinha que me adaptar ao ritmo.
Enfim, para aqueles que se interessam no livro, não pude deixar de pensar em uma ajudinha... Uma pequena lista, e acredite em mim, se você não for perspicaz o suficiente para descobrir que todos os nomes diferentes que Tolstoi usa, no final das contas, se referem a mesma pessoa, vai ser complicado seguir em frente, outro ponto que irrita muito os leitores, imagino eu, são os nomes russos relativamente complicados, eles normalmente indicam a família ou o pai, através dos sufixos "ov(a)", "ev(a)", "itch", "ovna" e "evna" e e o leitor pode ver o mesmo nome se repetir em muitas variantes... E para melhorar o angu, existem os apelidos, e uma pessoa pode ter mais de um apelido também...
Ana Arcádievna Karênina - personagem principal
Alieksiei Aliesándrovitch Karênin - marido chato da Ana.
Sérgio Alieksiêivitch ou Sierioja ou Kútik - filho
irrelevante do casal.
Conde Alieksiei Kirílovitch Vronski - galã maravilha das 9,
amante da Ana
Condessa Vrônskaia - mãe do Vronski, viúva do Conde Kiril
Ivanovitch Vronski
Annya - filha ignorada de Ana com Vronski
Catarina Tchierbátskaia ou Kitty ou Katienka - jovem que no início se apaixona por
Vronski
Stiepan Arcadievitch Oblonski ou Stiva - irmão de Ana, o
bacon que aparece por primeiro no livro, gosta de gastar o crédito com festas,
jantares e amantes..
Dária Alieksándrovna Oblonski ou Dolly ou Dacha ou Dólinka -
mulher de Stiepan e irmã de Kitty.
Tatiana, Gricha, Macha e outros - filhos do casal desilusão
Stiepan e Dária.
Príncipe Alieksei Tchierbátski - casado com a Princesa Tchierbatskaia com quem tem 3 filhas,
Dolly, Kitty e Natália (casada com Arsiêni Lvov).
Constantino Dmitrievitch Liêvin ou Kóstia - (alter ego do
Tolstoi hohoho) - se casa com Kitty - homem ligado à terra, aos hábitos simples
que, e incrivelmente apesar disso, é amigo do Oblonski.
Dmítri - filho de Liêvin e Kitty
Sérgio Ivanovitch Kósnichev - irmão mais velho de Liêvin,
escritor.
Nicolau Liêvin - irmão de Liêvin, tuberculoso e
alcóolatra.